Em 23 de setembro de 1996, Caetano Veloso fez seu debut no programa Roda Viva, apresentado por Matinas Suzuki Jr.. No centro das atenções do clássico da TV Cultura, o cantor respondeu às perguntas de Cacá Diegues, Eduardo Giannetti da Fonseca, Cesare de Florio la Rocca, Marcos Augusto Gonçalves, Hubert Aranha e Luiz Tenório Lima.
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25 anos depois, no próximo dia 20 de dezembro, o artista estará de volta à atração, agora liderada por Vera Magalhães. E do mesmo modo que muito tempo se passou, a avaliação é de que pouca coisa mudou, sobretudo em relação à sociedade e à política.
De acordo com a divulgação da emissora, cultura será um dos motes principais, mas a política, inevitavelmente se fará presente no bate-papo com o marido de Paula Lavigne. Vale lembrar que, na primeira participação de Caetano na sabatina, os temas em alta foram praticamente os mesmos.
Houve, por exemplo, perguntas sobre a relação do artista com Fernando Henrique Cardoso, presidente à época; o que ele pensava sobre um possível ‘Brasil socialista’; a prisão na Ditadura Militar e decorrente exílio em Londres entre 1969 e 1972; a consolidação da democracia do Brasil; além da sempre polêmica descriminalização das drogas. [continua depois da imagem]
Veja algumas citações de Caetano Veloso no Roda Viva de 1996:
“Se nós tivéssemos, talvez, chegado ao socialismo, não me interessaria tanto saber o que o socialismo faria de nós, mas o que o Brasil faria do socialismo.”
“Fiquei deprimidíssimo por estar fora do Brasil. Estar expulso do país, uma pessoa que se sente tão ligado a ele, é algo quase insuportável”.
“O Brasil é um país que não esteve nunca conseguiu se transformar numa sociedade saudável, que apresentasse o mínimo de justiça social”.
“Fernando Henrique é muito desenvolvido mentalmente e pros problemas que ele tem que resolver está muito atento. Não há a menor chance dele precisar de mim“.
“Droga deveria ser livre e desencorajada, porque acaba com o valor que tem pro tráfico e acaba com o moralismo imbecil”.
Caetano Veloso, no Roda Viva, em 1996
2021: indignação com Bolsonaro deve dominar o Roda Viva?
Dito isso, o que esperar das afirmações de Caetano no Roda Viva em 2021, quando a situação do país se mostra tal qual ou mais ainda caótica do que há 25 anos?
Sua vertente política não é segredo para ninguém e as críticas ao governo atual, gerido por Jair Bolsonaro, são escancaradas nas redes sociais, em reportagens e em seus próprios shows.
No jornal britânico The Guardian, em julho de 2020, Veloso fez declarações a respeito. “Um pesadelo absoluto. É uma loucura. Ter um governo militar é horrível e Bolsonaro é tão confuso, tão incompetente. O governo dele não fez nada. O que o executivo brasileiro fez no período desde que foi presidente? Nada … Não houve governo – apenas uma raquete de insanidades“, opinou.
Mais recentemente, no icônico 7 de setembro deste ano, Caetano esteve em turnê pela Europa e fez questão de levar sua indignação com a política brasileira para os palcos. Neste dia, apoiadores de Bolsonaro foram às ruas para ‘debater’ pautas antidemocráticas. Isso com o estímulo de Bolsonaro, que discursou para grupos aglomerados em plena pandemia.
“O 7 de Setembro é celebrado, já vão completar 200 anos no ano que vem, como dia da Independência do Brasil. E hoje há manifestações no Brasil, propondo um tipo de dependência que, nós que somos a maioria, não admitiremos que aconteça”, declarou Caetano Veloso, sendo ovacionado pela plateia, que gritou: “Fora Bolsonaro”. Em resposta, o compositor baiano concordou: “Isso é o primeiro passo: fora Bolsonaro”. Veja o vídeo.
Em meio a tanta desordem sociopolítica-econômica de nosso país, por conta da ligação de Caetano com tais temas e por sua influência ao longo de seus 56 anos de carreira, a música pode cair para segundo plano no Roda Viva do próximo dia 20.
E isso deve ocorrer mesmo que a TV Cultura prepondere, em sua divulgação, o fato do artista ter acabado de lançar um novo álbum – Meu Coco, com a participação de músicos como Marcelo Costa, Mestrinho e Vinicius Cantuária – e tenha convocado comunicadores mais voltados para a arte, com exceção de Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha de S.Paulo e do Mynews.
Os demais entrevistadores que estarão na bancada serão Adriana Couto, jornalista e apresentadora do programa Metrópolis da TV Cultura e do programa Nova Manhã, da Rádio Nova Brasil FM; Maria Fortuna – repórter de Cultura do jornal O Globo; Luiz Antonio Simas, professor e escritor; Leonardo Lichote, jornalista; e Ademir Correa, diretor de conteúdo da Rolling Stone Brasil.
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