COMENTÁRIO

Mais política do que música? O que esperar de Caetano Veloso no Roda Viva após 25 anos

Cantor e compositor esteve na sabatina da TV Cultura pela primeira vez em 1996

Publicado em 16/12/2021

Em 23 de setembro de 1996, Caetano Veloso fez seu debut no programa Roda Viva, apresentado por Matinas Suzuki Jr.. No centro das atenções do clássico da TV Cultura, o cantor respondeu às perguntas de Cacá Diegues, Eduardo Giannetti da Fonseca, Cesare de Florio la Rocca, Marcos Augusto Gonçalves, Hubert Aranha e Luiz Tenório Lima.

25 anos depois, no próximo dia 20 de dezembro, o artista estará de volta à atração, agora liderada por Vera Magalhães. E do mesmo modo que muito tempo se passou, a avaliação é de que pouca coisa mudou, sobretudo em relação à sociedade e à política.

De acordo com a divulgação da emissora, cultura será um dos motes principais, mas a política, inevitavelmente se fará presente no bate-papo com o marido de Paula Lavigne. Vale lembrar que, na primeira participação de Caetano na sabatina, os temas em alta foram praticamente os mesmos.

Houve, por exemplo, perguntas sobre a relação do artista com Fernando Henrique Cardoso, presidente à época; o que ele pensava sobre um possível ‘Brasil socialista’; a prisão na Ditadura Militar e decorrente exílio em Londres entre 1969 e 1972; a consolidação da democracia do Brasil; além da sempre polêmica descriminalização das drogas. [continua depois da imagem]

Caetano Veloso no Roda Viva em 1996 (Reprodução TV Cultura)
Caetano Veloso no Roda Viva em 1996 (Reprodução TV Cultura)

Veja algumas citações de Caetano Veloso no Roda Viva de 1996:

Se nós tivéssemos, talvez, chegado ao socialismo, não me interessaria tanto saber o que o socialismo faria de nós, mas o que o Brasil faria do socialismo.”

“Fiquei deprimidíssimo por estar fora do Brasil. Estar expulso do país, uma pessoa que se sente tão ligado a ele, é algo quase insuportável”.

“O Brasil é um país que não esteve nunca conseguiu se transformar numa sociedade saudável, que apresentasse o mínimo de justiça social”.

“Fernando Henrique é muito desenvolvido mentalmente e pros problemas que ele tem que resolver está muito atento. Não há a menor chance dele precisar de mim“.

“Droga deveria ser livre e desencorajada, porque acaba com o valor que tem pro tráfico e acaba com o moralismo imbecil”.

Caetano Veloso, no Roda Viva, em 1996

2021: indignação com Bolsonaro deve dominar o Roda Viva?

Dito isso, o que esperar das afirmações de Caetano no Roda Viva em 2021, quando a situação do país se mostra tal qual ou mais ainda caótica do que há 25 anos?

Sua vertente política não é segredo para ninguém e as críticas ao governo atual, gerido por Jair Bolsonaro, são escancaradas nas redes sociais, em reportagens e em seus próprios shows.

No jornal britânico The Guardian, em julho de 2020, Veloso fez declarações a respeito. “Um pesadelo absoluto. É uma loucura. Ter um governo militar é horrível e Bolsonaro é tão confuso, tão incompetente. O governo dele não fez nada. O que o executivo brasileiro fez no período desde que foi presidente? Nada … Não houve governo – apenas uma raquete de insanidades“, opinou.

Mais recentemente, no icônico 7 de setembro deste ano, Caetano esteve em turnê pela Europa e fez questão de levar sua indignação com a política brasileira para os palcos. Neste dia, apoiadores de Bolsonaro foram às ruas para ‘debater’ pautas antidemocráticas. Isso com o estímulo de Bolsonaro, que discursou para grupos aglomerados em plena pandemia.

“O 7 de Setembro é celebrado, já vão completar 200 anos no ano que vem, como dia da Independência do Brasil. E hoje há manifestações no Brasil, propondo um tipo de dependência que, nós que somos a maioria, não admitiremos que aconteça”, declarou Caetano Veloso, sendo ovacionado pela plateia, que gritou: “Fora Bolsonaro”. Em resposta, o compositor baiano concordou: “Isso é o primeiro passo: fora Bolsonaro”. Veja o vídeo.

Em meio a tanta desordem sociopolítica-econômica de nosso país, por conta da ligação de Caetano com tais temas e por sua influência ao longo de seus 56 anos de carreira, a música pode cair para segundo plano no Roda Viva do próximo dia 20.

E isso deve ocorrer mesmo que a TV Cultura prepondere, em sua divulgação, o fato do artista ter acabado de lançar um novo álbum – Meu Coco, com a participação de músicos como Marcelo Costa, Mestrinho e Vinicius Cantuária – e tenha convocado comunicadores mais voltados para a arte, com exceção de Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha de S.Paulo e do Mynews.

Os demais entrevistadores que estarão na bancada serão Adriana Couto, jornalista e apresentadora do programa Metrópolis da TV Cultura e do programa Nova Manhã, da Rádio Nova Brasil FM; Maria Fortuna – repórter de Cultura do jornal O Globo; Luiz Antonio Simas, professor e escritor; Leonardo Lichote, jornalista; e Ademir Correa, diretor de conteúdo da Rolling Stone Brasil.

Leia outros textos da colunista AQUI.

Caetano Veloso voltará ao Roda Viva após 25 anos (Divulgação)
Caetano Veloso voltará ao Roda Viva após 25 anos (Divulgação)

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