Entrevista

Sucesso nas redes sociais, Joana Treptow se destaca na apresentação do Jornal da Band

Seu desejo de ser jornalista vem da infância, ela realizou o sonho e está cada vez mais realizada na carreira

Publicado em 31/03/2021

Amigos da coluna Por Trás da Tela, minha convidada especial de hoje é Joana Treptow. Para mim, ela é uma das jornalistas da área que melhor representam a modernidade na profissão. Uma profissional multiplataforma, empreendedora, com muita alegria na vida e no trabalho. Ela atendeu ao meu pedido para uma conversa muito legal.

CHRISTIANO BLOTA – Joana, está tudo bem na Band?

JOANA TREPTOW – Vou te falar, Chris, começaram a levar mais gente para home office e na frente da minha mesa, onde ficava uma galera, chefia de reportagem, e também profissionais da Rádio Bandeirantes, o espaço está vazio. Então, é horrível, sabe?

Aquela redação que a gente ama, os gritos que a gente ama, telefone tocando sem parar e você vê que está difícil. Mas é por uma boa causa e eu fico muito feliz com os colegas que conseguem se proteger e trabalhar em casa neste momento.

CB – Aproveitando o seu relato: como você está enxergando a pandemia?

JT – Com os piores olhos possíveis. Nunca imaginei que a gente pudesse passar por algo do tipo, nunca imaginei estar em uma situação tão catastrófica, digna de filme, ficção cientifica, que estamos vivendo na primeira pessoa – contando e narrando na primeira pessoa. Histórias de superação, de tragédia, de muita dor, e no início eu acho que ativei o modo guerrilha, o modo automático.

Eu estava pronta para a guerra. Eu ia trabalhar “faca na caveira”. Eu me senti aliviada ao ver os números melhorando no final do ano passado e agora que tudo começou a piorar vemos que é uma tragédia anunciada, mais do mesmo. Sabíamos que isso iria acontecer, era batata.

A piora drástica dos números está me fazendo muito mal, principalmente no que diz respeito a famílias que estão perdendo vidas, parentes, mas estou tentando lidar com o medo que eu estou sentindo. No início eu tinha medo com pouco de esperança, aguardando a luz no fim do túnel. Agora eu sinto medo vendo a luz no fim do túnel, que é muito louco.

Então, você sabe que tem vacina, sabe que tem cura, mas você passa a desacreditar nas atitudes de algumas pessoas, na falta de cuidado, na falta de amor, na falta de consciência, na falta de tomada de atitudes e isso me assunta.

É um medo que já não é tão esperançoso e isso tem me deixado bastante angustiada. Tenho alguns momentos de ansiedade, que eu comecei a questionar se podiam ser crise de pânico, e voltei correndo para a terapia, o que está me fazendo bem.

Mas, é ruim você olhar para o lado e ver o medo nos colegas. E agora piorou, todos com aquela máscara de médico, a máscara que marca o rosto, aumentando o distanciamento social. Então, isso me traz muita angústia. Tento lidar da melhor maneira possível para eu não pirar…

CB – Eu entendo. Jornalismo já é por si só uma profissão estressante. Você acrescenta a questão da Covid e temos a fórmula do caos. Vamos torcer por nós, pelo Brasil. Joana, vamos abordar perguntas mais leves na nossa conversa. Você é portuguesa ou brasileira?

JT – Eu vim para o Brasil com 15 anos, ou seja, eu passei 15 anos em Portugal. Estou com 27 anos. Então, daqui a pouquinho vai fazer exatos 15 anos que eu estou no Brasil. Estou na metade do caminho. Eu sou muito apegada às minhas raízes portuguesas.

Sinto que eu faço parte do povo português, tenho muito orgulho do meu povo e da minha nação. Ao mesmo tempo, sinto que tenho uma alma brasileira. Como se meus pés estivessem presos nas minhas raízes portuguesas, como em uma árvore. O topo da árvore é o sol brasileiro.

CB – Eu sinto o contrário. Um dia eu fui para um outro país da Europa e o avião fez escala em Portugal. Fiquei lá uns dias e adorei. Agora quero voltar sempre. Bom, mas já estou falando demais. Joana, como você decidiu ser jornalista?

JT – Eu não me lembro. Eu sei que sempre quis ser jornalista. Em Portugal eu morava em um prédio que tinha uma repórter.

A minha mãe, sempre que passávamos pela jornalista, falava: “Viu, Joaninha? Aquela menina é que traz as notícias na televisão para a gente”. Aquilo me encantou de um jeito. Achava aquilo um poder, o auge da sabedoria, você estar no ponto de encontro das informações, sabe? Poder falar para todo mundo. Eu falava: “Mãe, que lindo”. Então, eu sempre me lembro de querer ser jornalista. Eu sonhava muito com isso. Não tive momento em que eu quisesse ser outra coisa.

Fora um “lapso” que eu tive na faculdade, depois de descobrir os salários e as condições de trabalho. Pensei: “Quero fazer concurso público. Quero ser delegada”. Mas logo voltei ao jornalismo.

CB – Você teve sorte de saber o salário na faculdade. Eu descobri quando comecei a trabalhar, foi uma falha não me informar, uma lição para um jovem jornalista. Aí já tinha me preparado para o negócio, não tinha mais jeito.

JT – Olha, não foi nem a questão do salário, Chris. Foi um momento em que eu comecei a entregar os currículos e ninguém me chamava, sabe?

CB – Claro que eu sei.

JT – Eu disse: “Mãe, ninguém me chama. Não quero”.

CB – Eu já escrevi isso nos meus textos opinativos aqui na coluna: “A oferta de mão de obra no jornalismo é uma loucura. Então, precisa batalhar muito”. E hoje você integra a equipe de apresentadores do Jornal da Band. Fala um pouco deste momento em que você está vivendo.

JT – Muito especial. Nunca imaginei que tão cedo eu pudesse participar de um Jornal tão importante. Para mim, a credibilidade e seriedade do Jornal da Band é única. Acho que é um dos melhores, se não o melhor jornal do País, que se propõe a fazer um jornalismo diferente, experimentar coisas diferentes a dar voz a pessoas diferentes.

Eu acho que me levaram ao jornal por eu ser um contraponto. Uma pessoa diferente até pela idade e isso me faz tremer na base. É um jornal sério, por onde já passaram nomes inacreditáveis, e eu estou ali no meio. Parece que eu caí de para-quedas, mas na verdade não é assim.

Teve um monte de trabalho por trás disso. Então, foi muito especial. Eu cheguei lá para fazer a previsão do tempo e não acho que seja demérito, apesar de dentro do jornalismo as pessoas olharem com olhos tortos: “A moça do tempo”. Eu aprendi com a Laura Ferreira, que me ensinou tudo o que poderia me ensinar. Ela foi uma irmã, muito mais que professora e colega.

Só que eu cheguei no Jornal da Band e duas semanas depois começou a pandemia. O jornal mudou de formato e eu passei a abraçar mais editorias, mais matérias, mais cabeças.

Agora o jornal é bem equilibrado, tem quatro pessoas, que ocupam mais ou menos o mesmo tempo e espaço. É uma equipe forte e eu aprendo muito com todos eles.

Em primeiro lugar eu tenho a oportunidade de trabalhar com a minha melhor amiga, que é a Paloma Tocci. Eu era fã dela, quando estudante. Eu me lembro de estar em uma república (eu morava com umas amigas em Botafogo), e foi a primeira vez que eu vi a Paloma.

Pensei: “Meu Deus do Céu. Eu quero ser essa mulher”. Eu quero estar perto dela, um pouco da luz. Ficamos amigas e tive a oportunidade de ficar amiga também da Lana Canepa e do Eduardo Oinegue, que são pessoas muito inteligentes, com opiniões muito bem formadas, que entendem de tudo um pouco – política, máquina pública, que eram assuntos mais densos, que me assustavam. Então, essa mistura de pessoas é hoje o Jornal da Band.

CB – Joana, eu também te acompanho nas redes sociais e queria saber o que veio primeiro na sua vida: TV ou internet?

JT – Eu comecei a usar as redes sociais para trabalhar, quando ainda era o Snapchat. Eu usava o Snapchat para mostrar os bastidores do meu estágio em jornalismo. Então, eu posso dizer que foi a internet primeiro. Eu não estava no vídeo, mas estava no aplicativo com “orelhinhas de gatinho”. Lembra daqueles filtros?

CB – Claro que eu me lembro…

JT – Eu filmava todos os bastidores. Eu era apaixonada em ver o que estava por “Trás das Câmeras”. E me encanta saber o lado verdadeiro das pessoas. Quando eu era pequenininha eu perguntava para minha mãe: “Será que meus professores tem marido, mulher, filho?”. Porque em Portugal a relação com professores é rígida, você não tem acesso aos professores, como no Brasil, de se tornar amigo, ser próximo.

Eu sempre quis saber o outro lado da vida das pessoas e quando eu comecei a estagiar na Band e também na GloboNews, eu achava o máximo mostrar os corredores, o equipamento, achava o máximo mostrar todos os detalhes.

Se tinha caneca com “GloboNews” escrito, eu mostrava. Eu acho que isso mata a curiosidade das pessoas e mostra que não somos robôs. Não é tudo perfeito. As pessoas ligam a televisão e parece que tudo “já existe”, antes de alguma pessoa trabalhar naquilo.

O funcionamento é tão incrível, tão perfeito, e muitos pensam que ninguém teve que colocar uma “mão” por lá. Mas é feito por humanos e eu mostrava isso. Depois eu passei para o “Instagram”.

E você sabe, Chris, que tinha muita gente que me zoava. Eu agora entendo um pouco, né? Quando a gente é mais nova e entra na profissão, alguns que estão lá zombam, do tipo: “Chegou chegando, acha que está arrasando”. E eu filmava tudo, né?

CB – Eu entendo. As pessoas se incomodam, acham que chegou alguém espaçoso, alguém que entra por último no ônibus e já quer o melhor assento, perto da janela. Uma pena porque você mostrava vontade, mas parece que nem todos entenderam, ou não queriam entender….

JT – Exatamente. Eu ficava bem encucada, teve uma chefe que pediu para eu parar. Porque ela achava fútil eu ficar mostrando os bastidores do jeito que eu sou. Porque eu faço piada com tudo, sou muito palhaça e tenho aquele humor bem infantil. Eu rio de coisas bobas e gosto de pessoas que fazem o mesmo humor.

A chefe me disse: “Acho melhor você parar porque vai parecer muito fútil. Sua aparência já é de menininha e se você mostrar isso dessa forma pode perder a credibilidade”. Isso me assustou um pouquinho e eu parei com a história de mostrar bastidores nas redes sociais. Mas, quando voltei para as redes sociais, eu voltei com tudo. Voltei sem medo.

CB – Você se comporta nas redes sociais de um jeito que eu não consigo, e gostaria de ser como você. Você está sempre pronta, disposta para se comunicar com seus seguidores. Eu sou muito preguiçoso. Se eu estou na praia, no campo, fora do Brasil em uma viagem legal, eu me esqueço de entrar nas redes sociais. Às vezes estou em lugares maravilhosos e penso: “Amanhã eu mostro o pôr do sol”. E o amanhã nunca chega. Eu acho isso ruim. Fala um pouco disso, da sua disposição em compartilhar um pouco da vida com internautas.

JT – Eu acho que estou onde estou muito por causa das pessoas que me assistem na internet. Essa comunicação é muito importante. As pessoas querem falar com você no Twitter, no Instagram, no Facebook, no Linkedln. Se você fizer uma live, as pessoas assistem.

Querem saber um pouco da sua vida, então você cria uma relação. Eu não diria de dependência, que parece ser um vício, mas cria uma relação de troca, que é frequente. Então, você se habitua aquela frequência. Eu mostro o que eu gosto de ver, para pessoas que gostam de ver o que eu vivo. Eu não consigo pensar que eu estou em um lugar e não fazer um vídeo. Parece que faz parte do meu corpo. Eu sei que é algo da minha geração.

Se eu estou aqui em uma viagem eu penso: “Um vídeo aqui seria muito legal”. Por exemplo, quando eu fui pedida em casamento pelo Lucas [Scoz] em Jericoacoara. Esse é o futuro no qual a gente falava e hoje é presente, mas tem pessoas que não conseguem trazer para o presente.

CB – Como foi seu pedido de casamento em Jeri?

JT – Foi lindo, com pôr do sol, sendo que as pessoas acompanhavam que éramos casados no papel, mas não tinha o pedido de casamento. Como eu não iria partilhar isso? Eu ficava no pé do Lucas, brincando, sobre o pedido de casamento. E a galera da internet ficava perguntando: “Como assim, Lucas? Não vai pedir a Joana em casamento?”.

E o Lucas é uma pessoa que não se incomoda em aparecer, ele aparece bastante desde que começamos a namorar. Ele é muito engraçado, com humor caricato, e faz parte do meu dia.

CB – Joana, me conta a notícia que mais te marcou no oficio de jornalista, pelo menos por enquanto?

JT – A morte do Boechat foi uma coisa que marcou. Eu estava na Band e foi inacreditável. Como vamos noticiar a morte de uma pessoa que estava na emissora há cinco minutos, eu vi o helicóptero sair e acontece um fato desses. Na redação todos chorando, foi um dos momentos mais marcantes.

Eu me lembro também da escalada da pandemia, dos momentos em que eu recebia as informações de um vírus, das mortes na Itália e da eminencia de chegar no Brasil. Eu me lembro de todos esses momentos dessa narrativa. E eu sabia que iria dar ruim, Chris.

Para mim era nítido. Não sou formada em nada da área cientifica, mas é uma conta simples (1+1=2). Você sabe que tem um vírus matando gente em outro canto do mundo, vivendo em um mundo globalizado, como é que não vai chegar aqui? Isso me assustou bastante…

CB – Concordo com você. Quais são seus projetos pessoais e profissionais daqui para frente em TV e Internet?

JT – Eu tenho um laboratório de jornalismo, que se chama “In Foca”. É um grupo de meninas e nós incentivamos a entrada delas no mercado de trabalho. São estudantes de jornalismo, mulheres que acabaram de se formar, não tiveram oportunidade de estagiar e trabalhar no jornalismo.

Eu sei que o mercado de trabalho é muito cruel, sei das dificuldades que eu enfrentei, em um primeiro momento, sem conseguir uma ajuda.  Só pelo fato de ter alguém que te inspira perto, alguém que está trabalhando ao seu lado, te mostrando o caminho, é muito acolhedor.

Eu criei esse grupo com uma amiga que é repórter da {Rádio] Jovem Pan, que é a Camila Corsini, e a gente tem uma página no Instagram, um perfil onde as meninas reproduzem as notícias, através de postagens, para pensar a identidade visual.

Nós fazemos experimentos, o que dá certo e o que não dá. Por exemplo: “vamos fazer um vídeo de cima para baixo, de baixo para cima, com uma música no fundo, uma imagem? Além dos experimentos, ensinamos as meninas a escreverem jornalisticamente.

A gente corrige, ensina a filtrar e apurar a notícia, ir atrás de “fonte” para as matérias, e construir um texto em um post para as redes sociais. Hoje em dia precisamos aprender a fazer jornalismo nas redes sociais. Elas vêm com muitas ideias e nós com correções de português e construção de notícias.

Com isso nós temos um grupo de 14 “foquinhas”. De uns tempos para cá eu deixei de fazer uma reunião semanal com elas. Na reunião escolhíamos o tema e conversávamos sobre o assunto.

Exemplos: “Rede social dentro do jornalismo”; “Mulheres na redação”; “Como começar um off em uma reportagem”; “Qual é o melhor tipo de matéria para se fazer”. Em determinado momento eu achei que elas estavam cansadas de olhar para a minha cara toda a semana, reuniões tarde da noite e não ganhavam nada por isso, apesar da troca de experiências. Então, criamos as reuniões com profissionais inspiradores e eles dão palestras para as meninas.

Nós começamos com o Rodrigo Carvalho (correspondente da Globo em Londres); Flávio Fachel (apresentador do Bom Dia Rio); Lana Canepa (apresentadora do Jornal da Band); Marcelo Ribeiro (repórter do Valor Econômico). Além desses nomes, a Camila Appel, roteirista do documentário Em Nome de Deus, sobre João de Deus.

No futuro eu imagino que eu vá empreender no jornalismo. Eu imagino continuar a apresentar e experimentar coisas novas na televisão e fazer jornalismo da forma tradicional, que eu amo. Mas eu gosto desses projetos para fazer em paralelo. Eu também quero escrever um livro e ser professora.

CB – Para encerrar, a pergunta padrão da coluna: quando a Joana está “Por Trás da Tela”, o que ela gosta de fazer?

JT – Eu gosto de me jogar na vida, de me aventurar, seja em projetos, seja em viagens, seja em sonhar, seja em passar um fim de semana de risada com amigas, eu gosto de viver, eu tenho sede de vida, então eu faço tudo intensamente. Eu quero tirar o melhor dessa minha passagem pela Terra, então, eu tento viver ao máximo e aproveitar tudo o que eu posso. Sem energias ruins…

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