Entrevista exclusiva

“Economia é reflexo das decisões que tomamos todos os dias”, diz Thais Herédia, analista e âncora da CNN Brasil

A jornalista chega em breve com mais uma novidade, o CNN Money

Publicado em 23/02/2022

Amigos da Coluna Por Trás da Tela, hoje eu recebo uma convidada que eu acompanho com confiança e convicção quando pretendo entender a situação econômica e política do nosso Brasil. Ela é uma profissional dedicada e, na minha opinião, se mantém como uma das melhores no jornalismo: Thais Herédia.

CHRISTIANO BLOTA – Thais, é um grande prazer receber sua visita aqui. Eu tenho muita admiração pelo seu trabalho, principalmente por você falar de um assunto complexo – economia – e você reportar de uma maneira mais acessível ao público… Eu aproveito e peço para você falar de mais um desafio na sua carreira: a CNN chega com mais uma novidade, o CNN Money. Como serão o formato do programa e a parceria com a Priscila Yazbek?

THAIS HERÉDIA – A CNN tem tradição nessa cobertura, e não podia ser diferente aqui no Brasil. A ideia é começar o dia convidando para o debate do que é prioridade do ponto de vista da economia. Vamos falar do cenário macro daqui e do mundo, da conjuntura, mas também de investimentos e negócios. A Priscila Yazbek é um desses talentos que vão brilhar por muito tempo no jornalismo. Temos 20 anos de diferença de idade e somos absolutamente complementares. Ela entende profundamente de mercado financeiro, e vamos formar uma dupla para trazer muita informação com contexto e análise dos fatos.
 
CB – A maneira didática que você usa para falar de economia (posso também acrescentar política) vem de formação acadêmica, ou é o seu jeito de se comunicar em qualquer situação? Quando você percebeu essa sua vocação?
 
TH – Eu assumi um desafio de convencer as pessoas de que economia é uma ciência humana, que é reflexo das decisões que tomamos todos os dias como indivíduos, governos, países. Economia sempre foi um tema árido, restrito a um público que já entende um pouco dele. Ao longo desses 20 anos nessa cobertura, sempre vem um insight novo de como tratar os temas sem ferir conceitos, ou achar que as pessoas vão absorver tudo de uma vez. O que não faço nunca é subestimar a capacidade de compreensão de quem me acompanha, fazendo analogias simplórias que distorcem as coisas. Eu criei alguns bordões pra ajudar, do tipo: “Esquece o número, pensa na dinâmica”, porque a análise qualitativa sobre o ritmo, a composição da retomada, por exemplo, é mais importante e ajuda a entender o que está acontecendo ao longo do tempo.
 
CB – Hipoteticamente falando: se você pudesse sugerir duas medidas econômicas que beneficiassem o Brasil (independentemente do governo vigente), quais seriam?
 
TH – Que perigo (risos). Muita coisa importante aconteceu aqui nos últimos anos, reformas essenciais aconteceram. Hoje a prioridade é não perder uma geração de crianças e jovens que foram os mais afetados pela pandemia. Mudar completamente a gestão da educação, mexendo no orçamento público, na interação com o setor privado, no resgate do aprendizado, isso tudo junto poderia evitar um abismo social no país no futuro. Isso valeria pra sempre, não só para a pós pandemia. Se eu acredito que a economia é consequência, a primeira medida teria que ser a causa, por isso cuidar da Educação. Para citar duas medidas como você pediu, seria abertura da economia pra aumentar competitividade e acesso a melhores tecnologias.
 
CB – Como surgiu o convite para participar da CNN Brasil?

TH – Foi uma baita surpresa. Estava feliz na rádio e produzindo conteúdo de várias formas. A CNN é uma referência global e fazer parte do time de estreia dela no Brasil seria extraordinário. A gente começou junto com a pandemia e foi uma loucura lidar com a adaptação, o choque, o aprendizado, e um privilégio testemunhar e trabalhar tanto sob o peso da marca CNN neste momento.

CB – Como você avalia hoje o jornalismo no Brasil?

TH – Acho que essa pergunta vale para muitos países, grandes democracias como o Brasil. O jornalismo hoje luta para se manter como ponte, como farol que ilumina os fatos, como mediador. As “fake news” são o pior fenômeno atual, mas tem mais. Os “fatos alternativos”, a polarização, o confronto permanente nas redes sociais, nas ruas! Isso tudo tenta corroer a credibilidade e o trabalho da imprensa profissional. Mas eu não desisto e estou super bem acompanhada de muitos colegas que não se intimidam, não recuam e não abandonam os fatos de jeito nenhum. Não tem sido fácil, mas quem tem voz e espaço não pode desistir.

CB – Além da CNN, você pode falar de suas outras atividades profissionais?

TH – Na CNN eu faço muita coisa, mas consegui manter espaço para continuar com encontros para falar de economia. Eu comecei a fazer isso há uns seis, sete anos. Empresas e grupos que queiram entender o que está acontecendo no país. Com o tempo fui entendendo que esses encontros são uma fonte enorme de aprendizado. É onde eu ouço dúvidas sem “filtro”, um termômetro real do que estamos vivendo. No jornalismo, os fatos e as fontes são meus instrumentos vitais. Com os encontros, enriqueço meu repertório entendendo melhor como as pessoas estão decidindo sobre seus negócios, sua vida. Isso é economia.

CB – Thais, como você escolheu o segmento econômico no jornalismo? Ou a economia te escolheu?

TH – Ixe (risos). Acho que foi um pouco de cada. Em janeiro de 2000 meu chefe na Band em Brasília na época, João Borges, me chamou para ir com ele para a assessoria de imprensa do Banco Central, sob a gestão do Armínio Fraga. “João, eu não sei a diferença entre ativo e passivo”, brinquei com ele. A cobertura do BC é uma das mais especializadas e complexas. Aceitei o desafio e, depois de três anos lá, vendo de dentro como as decisões são tomadas, como funciona a gestão do país, eu brinco que fiz mestrado e doutorado em economia. Comecei estudar, conheci muitas “cabeças” que tinham construído o pensamento e os fundamentos econômicos do Brasil. Quando caiu a ficha de que eu podia contar essa realidade de um jeito diferente, não parei mais.

CB – O Brasil está em crise, dividido politicamente, e estamos em ano de eleição presidencial. Você acha que temos chance de retomar o crescimento econômico neste ano, ou vamos ter que esperar o resultado das eleições e as novas negociações entre políticos?

TH – Ano de eleição sempre foi de suspender planos e aguardar, não deve ser tão diferente agora. O crescimento espera há muito tempo o momento certo para começar. Não vai adiantar mágica, nem super-herói. A grande negociação que a política precisa fazer é como melhorar a distribuição de renda no país. Os sinais hoje não são muito promissores, já que a briga pelos recursos continua sendo paroquial e de curto prazo. Não faz mais o menor sentido o setor público brasileiro ter a folha de salários como sua maior despesa. Nunca fez, mas hoje é quase um escândalo porque compromete capacidade de investimento e prestação de serviços para quem mais precisa. Estado não gera crescimento, mas induz às melhores decisões. Enquanto houver deficiência nessa gestão, as melhores decisões, aquelas que viram investimento e geram crescimento, não vêm.

CB – Thais, já aconteceu uma situação engraçada no trabalho, algo inesperado, especialmente ao vivo, e você teve que contornar a situação?

TH – Ah, depois de tantos anos fazendo ao vivo, não tem como escapar. Daniela Lima, Rafael Colombo, Daniel Adjuto, Sidney Rezende, Sérgio Aguiar, Guga Chacra, Jorge Pontual, Eliane Cantanhêde, entre tanta gente querida e competente com quem trabalhei, vivi boas passagens surpreendentes na TV e no rádio. Ter parceiros experientes, perspicazes e com humor sofisticado dá nisso…surpresa ao vivo. A gente ri junto e espera a próxima!

CB – Thais, estamos nos aproximando do Dia Internacional da Mulher e está muito claro que a experiência faz a diferença. Qual é a mensagem que você pode passar para quem gostaria de trilhar um caminho como o seu?

TH – Eu sou de uma família de mulheres. Somos sete irmãs, cada uma com sua personalidade, escolhas, histórias e legados. Nunca houve um modelo ideal entre nós porque aprendemos que não precisamos pedir permissão para fazer o que sabemos e podemos. Minha mãe segue assim, aos 82 anos. Cada vez mais recito uma das frases que cresci ouvindo meu pai repetir: “Vai devagar que estou com pressa”.

CB – Vamos à pergunta final da coluna, a pergunta tradicional. Quando a Thais Herédia está “Por Trás da Tela” (TV, computador, tablet, celular), o que ela gosta ou costuma fazer?

TH – Hoje sou mais caseira, gosto e preciso ficar com meus filhos, meu marido, mas também preciso de quietude. “Cabô as palavra tudo”, brinco no fim de semana. Acho que já tem um pouco da idade… Não passamos dos 50 impunemente. Tô adorando essa década, mas sinto as diferenças. Desconto um pouco na ginástica, que não fico sem. Muita leitura e um siricotico de vez em quando para arrumar gavetas. E adoro uma série, né? Quem não…

Thais, obrigado por aceitar meu convite. Muita generosidade de sua parte, e espero conversar mais contigo… Até a próxima!
 

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