A melhor da tarde

Catia Fonseca fala da carreira e novos projetos para TV e rádio em meio à pandemia

Sempre simpática e extrovertida, apresentadora fala da carreira e dos programas na rádio e TV Bandeirantes

Publicado em 16/04/2021

Amigos da coluna Por Trás da Tela, nossa convidada especial de hoje é Catia Fonseca. Ela é o tipo da pessoa que tem carisma de sobra. Sempre simpática, extrovertida, Catia não nos deixa perceber que o tempo passou enquanto conversamos com ela.

A apresentadora fala dos programas na rádio e TV Bandeirantes, além de projetos em meio à pandemia. A conversa aconteceu no dia 1º de abril e, antes que vocês pensem na brincadeira, eu já adianto que não houve mentira, mas muita sinceridade.

Ela atende o telefone e me conta que o marido (Rodrigo Riccó) teve covid-19. Eu me dispus a ajudá-la porque também contraí a doença, trago a experiência na alma e não desejo isso para ninguém.

CHRISTIANO BLOTA – Catia, se você tiver alguma dúvida, sou a cobaia viva…

CATIA FONSECA – Graças a Deus, ele (Rodrigo Riccó) não teve complicações, foi lá atrás, faz uns 30 dias mais ou menos. Eu falei: “Nossa. Estou em uma canseira que não é normal. Eu acho que estou estressada”. Rodrigo e eu temos rinite e sinusite. Eu achei que fosse isso (rinite, sinusite e stress), mas, depois de 10 dias que eu fiquei assim, o Rodrigo apresentou os mesmos sintomas. Não teve febre e mesmo assim quis fazer o exame. Ele tinha dores musculares e dores nos tendões. E parecia que ele estava com rinite. Você tem rinite?

CB – Tenho, Catia. Eu já ando com meu antialérgico no bolso. Às vezes eu tinha que entrar ao vivo, no rádio e TV, e a alergia não avisa.

CF – Isso. O Rodrigo ficou assim e com um pouco de tosse. Ele quis fazer o exame e o médico disse: “Então faz para você desencanar”. E deu positivo.

CB – Pois é. Meu caso é parecido. Eu estava em família e todos pegaram. Não me sentia tão mal, mas eu medi no oxímetro de dedo da minha sogra e marcava 93, hoje marca 98. Liguei para meu médico e ele imediatamente pediu para eu ir até o hospital. Graças a Deus não precisei do aparelho de oxigênio, me recuperei bem e rapidamente. Apesar de não ter sido grave, não foi leve o que eu senti. Você pensa em Deus e nas pessoas que estão na mesma situação.

CF – O Rodrigo também não pegou leve. Quando o exame deu positivo, a oxigenação dele caiu para 93. Depois subiu 94, 95 e não baixou. Depois que ele ficou bom, me contou que um dia o oxímetro voltou a marcar 93 e eu queria matar ele. Eu disse: “Não pode ficar nessa de não falar”.

CB – Com certeza. Mas ele já passou o período de 15 dias com os sintomas?

CF – Sim, já passou, já fez o exame de PCR e está negativo. Mas, como medida preventiva, a Band achou melhor eu trabalhar em casa. Eu acho que eu tive, porque eu fiz a sorologia e deu traço de covid, então o médico acha que talvez eu tenha pego, tenha passado para ele. Mas o sistema imunológico ainda não apresenta o vírus. E eu fiquei fazendo companhia para ele em todos os momentos…

CB – Ainda bem que você fez companhia para ele. Porque minha família pegou quase que ao mesmo tempo e um não pôde apoiar o outro como gostaria. Eu peguei um pouco mais forte e passei noites complicadas. Falei com o Papai do Céu: “Não quero ir agora. Eu aceito se o Senhor me ajudar a ficar por aqui”.

CF – Você falou: “Juro que vou ser mais bonzinho”.

CB – Isso mesmo. Igual escola, que você promete que vai estudar mais no próximo ano.

CF – Depois a gente não estuda. (risos)

CB – Exato. Mas Deus é bom e perdoa novamente. Olha, Catia, o que eu posso dizer é que o Rodrigo vai sentir os sintomas algumas vezes, mesmo curado, e gradativamente ele ficará bom, como antes.

CF – Sabe o que mais pegou para ele? O cansaço e a dor muscular. Ele ainda teve semana passada e comecinho da semana umas dores musculares fortes. Agora está tudo em ordem, mas as pessoas pensam que é fácil fazer programa de casa. É trabalhoso…

CB – Sim. É um estúdio de TV na sua casa, sem gente para ajudar.

CF – E eu só tenho o Rodrigo e o Neri (Szimanski), que trabalha com a gente e ficou isolado porque teve contato conosco. Ele chegou essa semana para ajudar. Na outra semana o Rodrigo estava ruim e não conseguia levantar, ficava deitado. Eu fazia o programa com ele deitado no sofá.

CB – Eu sei o que ele passou. Hoje estou me cuidando com Geleia Real e própolis, que são tratamentos alternativos, claro. Não substituem a ordem médica.

CF – Eu também tomo. Desde o começo da pandemia eu estou tomando a Geleia Real e à noite 25 gotas de própolis na água, além de vitamina. Isso ajuda o sistema imunológico. O doutor Grecco (Eduardo Grecco) falou: “Catia, se você não pegou covid, você precisa ser estudada”.

CB – Catia, a Geleia Real de boa procedência me ressuscitou, além de acupuntura. E me fez muito bem. É bom sempre falar que é um tratamento alternativo e os médicos devem ser ouvidos em primeiro lugar.

CF – Eu ainda aumentei para mais gotas de própolis. Melhor mais própolis do que a doença.

CB – Isso. Que eu saiba ninguém tem overdose de própolis.

CFSim. Ô ano difícil. E ainda tem gente que não respeita. Tivemos 4 mil mortes em um dia e tem gente com bingo clandestino.

CB – Pois é. Concordo. Agora vou começar mesmo a nossa entrevista. Catia, que prazer estar falando contigo.

CF – Todo meu. Você sabe que eu adoro sua irmã (Sonia Blota).

CB – Eu também adoro vocês. Eu acho que você e a Sonia são autênticas. Pessoalmente ou na TV tem o mesmo comportamento.

CF – Menino, dá um trabalho ser outra coisa! É melhor ser a mesma coisa. Na hora em que você se distrai, o público assusta. Eu nunca pensei em ser um personagem, desde que comecei a fazer TV. Eu substituí a Ana Maria Braga no Note e Anote. As pessoas me perguntavam: “Você se sentiu pressionada?”. Eu disse que não. Porque eu tinha que ser eu. Se eu tentasse ser o que ela era, eu estava forjando a mim mesma. Eu tenho que ser natural. Eu sempre pensei nisso. É mais fácil, dá menos trabalho você mostrar para as pessoas quem você é. Quem te acompanha não vai se sentir enganado. É chato quando você encontra a pessoa e vê que ela não faz nada do que diz. Eu penso que eu sou muito distraída, e iria dar muito trabalho para mim mostrar ser uma pessoa diferente.

CB – Com certeza, Catia. Você sabe que há pessoas que pautam a carreira delas em cima de um personagem. Às vezes nem é culpa da pessoa. Ela emposta a voz de um jeito. Não tem muita durabilidade. Você concorda?

CF – Sim. Mas tem suas exceções. Um exemplo: o Luiz (Luiz Henrique), que faz a Mamma Bruschetta. Ele não existe mais. Ele é a Mamma. Ele era o Luiz e tinha a personagem. Mas, a personagem, a Mamma, é muito do que ele pensa e como ele age. Ele virou a Mamma, entendeu?

CB – Fora da TV também?

CF – Igualzinho.

CB – Não sei se eu estou filosofando muito, mas será que o Luiz sempre foi a Mamma, e não o contrário?

CF – Eu acho que o criador virou a criatura. (risos) Eu falo para ela que inverteu os papéis. Ele pensa que nem mulher. Eu não consigo falar “ele”, eu falo “ela”. A Mamma é mais mulher do que eu sou. Eu sou mais seca, mais prática e não sou de “mimimi”. Não gostou do que eu falei já briga comigo, a gente discute, passou dez minutos e está resolvido. E a Mamma é de se magoar, fica chateada com as pessoas. Eu falo: “Gorda, você não pode ser assim”. Então, ela é muito mais feminina nesse ponto do que eu, entendeu?

CB – Entendi. A Mamma é o seu contraponto, Catia? Ou é mais uma companheira?

CF – Olha… Eu vou te falar uma coisa. O tempo que a gente trabalhou na Gazeta foi muito legal. Nós criamos uma amizade e eu a considero da minha família. A gente já riu e chorou juntas com coisas que aconteceram na minha família, na família dela. Passou várias festas de Natal em casa e se tornou da minha família. Eu a considero uma irmã. Eu não consigo ver a Mamma só como uma amiga. A gente brigava que nem irmã, fazia as pazes como irmã e é assim até hoje. Parece que Deus envia uma pessoa na vida da gente com um objetivo que nem entendemos direito, e depois percebemos.

CB – É. Às vezes é para uma alma ajudar a outra. Aquele espaço que precisa ser preenchido no nosso espírito.

CF – Eu acho que é bem isso mesmo. Preenche mesmo. Uma lacuna tão interessante que era uma amizade e virou família. E eu sou uma pessoa muito difícil de fazer isso. Não que eu não tenha amigos. Eu tenho muitos colegas. Mas, para considerar amigo de verdade, a pessoa precisa passar por vários crivos. (risos)

CB – Eu sei como é. Eu sou assim. Você é libriana, Catia?

CF – Não. Eu sou de Aquário.                                                                      

CB – Eu não entendo muito de signos, mas sou exatamente assim. Às vezes eu exijo até demais do que a pessoa pode me oferecer. Agora estou ficando mais velho e estou melhor.

CF – Eu também tenho isso. Então, para a Mamma passar de colega para amiga e família? Jesus, a pessoa foi muito boa. E não quer dizer concordar com a gente, né? É a pessoa ser real.

CB – Eu sei. Você tem que sentir que a pessoa gosta de você, do fundo da alma.

CF – É. Quer ver uma pessoa assim? Datena. A gente trabalhou juntos 20 anos atrás. Quando a gente foi para a Band, ele foi um grande incentivador. E nós ficamos sabendo não por ele, mas por outras pessoas. Ele ficava com o Johnny (Saad). Ele dizia: “Chama a Catia. Tem que chamar. Você já falou com ela?”. O Datena foi um grande incentivador. Ele sempre foi muito parceiro e amigo. Depois que fui para a Band, a amizade se fortaleceu mais ainda. Ele é uma pessoa verdadeira. Ele e a Matilde (esposa de Datena). Se ele acha que a minha cara está estranha, ele sai do ar e me liga. “Eu te achei estranha hoje. Está tudo bem?”. Eu digo: “Está tudo bem. Só estou cansada, com uns ‘mala’ me enchendo a paciência”. O Rodrigo ficou doente e ele ligou três vezes por dia.

CB – É. Ele gosta de você, a gente percebe vendo na tela. E voltando ao assunto de autenticidade, eu vejo vocês conversando, ao vivo, e percebo um olhar de muito carinho dele com você.

CF – É. Sabe o que é engraçado, Chris? O Datena percebe as sutilezas. Antes de começar o programa dele, fica me observando e sabe se eu estou bem ou não. Ele é muito perceptivo e autêntico. Quando ele gosta, ele gosta, e quando ele não gosta você esquece, que ele te acaba.

CB – Eu sinto que ele não consegue disfarçar quando algo está errado.

CF – Então, eu acho que ele deve ser muito parecido comigo. Se ele sente uma falsidade na pessoa, esquece. Eu corto, eu ceifo a pessoa. Ele ceifa e fala com a pessoa por que ele ceifou.

CB – Entendi. Eu acho que essa harmonia faz bem para a Band, fica uma sensação de equipe unida. A gente sabe que nem todos são unidos, em empresa nenhuma. Mas, quando você e o Datena conversam, eu acho que passa um sentimento legal para o espectador. Algo como amizade, um time trabalhando. 

CF – E posso te falar? Nada do que conversamos é combinado, e tem um respeito muito grande. A gente conquistou isso. Porque às vezes a amizade faz a gente extrapolar um pouco o limite. Então, um foi mostrando para o outro até onde aceitava. Isso não foi falado, nem dito, foi feito de uma forma sutil. Um foi respeitando mais o outro. Ele sabe que eu gosto de brincadeira de duplo sentido. Eu saco na cara dele se eu falo mais bobagens ou menos. Eu me divirto com isso. Então, passa naturalidade, porque a gente não combina nada.

CB – Catia, eu acho que quando a amizade existe “Por Trás da Tela”, que é o nome da coluna, fica mais fácil entrar ao vivo. Um já sabe o que o outro pensa. Eu me lembro da Hebe Camargo e da Lolita Rodrigues.

CF – Era isso. Incrível. Também a Nair Bello.

CB – Isso. Eu me lembrei agora da minha avó (Sonia Ribeiro) e da Rosinha Goldfarb (empresária). Elas saiam para restaurantes, viagens, uma estava sempre com a outra. E o clima era natural quando elas participavam de algo na TV, não precisava ensaiar.

CF – Então, eu odeio esse negócio de ensaio, faz você perder a naturalidade. Eu não sou atriz. Atriz pode ensaiar. Às vezes me falam: “Vamos repetir o que você falou?”. Como repetir? Eu nem sei o que eu disse. Você vai sentindo e você fala. O meu único ensaio é dizer onde eu vou ficar no estúdio, meu espaço físico, o resto não dá para ensaiar.

CB – Catia, e essa vibração positiva que você passa na TV? Eu sinto você sempre pra cima, fazendo comida, entrevistando. Claro, tem os momentos complicados. Por exemplo quando você fala da pandemia. Mas, você é alto astral. Sempre foi assim?

CF – Eu venho de uma família otimista. Minha família, tanto do lado de mãe quanto do lado de pai, é de gente muito forte. Então, eu acho que tenho um gênio desgraçado. (risos) Se eu resolvo fazer uma coisa, eu pondero os prós e contras. Se eu achar que estou pronta para pagar o preço, nem que Jesus venha à Terra, sem um bom argumento, vai me convencer a não fazer o que eu quero. Além do fato da família ter mulheres fortes e decididas, também tem gente muito bem-humorada. A minha irmã Carla, por exemplo. Não tem como você estar junto dela e não rir. Ela é muito louca. Ela tem umas sacadas ótimas. A gente sempre teve isso. Na minha família, eu tenho um tio (Valter) que contava piada em enterro e a gente ria. As pessoas olhavam feio. Mas a pessoa já morreu, o que tínhamos que fazer por ela já fizemos antes. É difícil as pessoas entenderem isso. Não é falta de respeito, mas se você já fez suas orações e ajudou a pessoa em vida, eu não enxergo que você tem que chorar porque todos estão se comportando da mesma forma.

Você tem que sentir aquilo que seu coração manda. Se você quer lembrar as bobagens que a pessoa fazia, lembre-se. Era o que meu tio fazia. Ele contava piada da pessoa que morreu. Eu acho que a minha família é otimista e “pra cima”, e eu acho que sou bem assim. Eu olho para o que está certo. O que está ruim eu não posso mudar.

CB – Que legal você ter levado esse sentimento para a TV. Catia, na sua carreira como apresentadora, com longa experiência profissional, você passou por saias justas? Lembra de ter pensado: “Como eu saio dessa?”. Porque programa ao vivo não é fácil.

CF – Eu já passei por várias. Quando eu comecei na Rede Mulher, a gente não tinha muitas condições técnicas. Estamos falando de 27 anos atrás, muito tempo. Então, não se tinha o mesmo aparato técnico de hoje. Não tínhamos nem dinheiro para a cartolina, para você ler os lembretes e determinadas falas do programa. Então, você memorizava os tópicos do programa e desenvolvia. Por isso, eu não ficava “amarrada”. Porque tem coisas que facilitam, mas engessam a gente. A tecnologia é importante, mas não podemos perder a naturalidade. Eu tinha que me virar, sem tempo de pensar, chorar. Mas aconteceram várias coisas.

Teve um dia na Gazeta que era Páscoa. A produção resolveu levar uns coelhinhos, bichinhos vivos e ovos de Páscoa, tudo junto. Eles organizaram os bichinhos em uma espécie de “escadinha de artesanato” e, obviamente, quando o bicho está acuado, ele fica parado. Eles montaram com antecedência a escadinha com os bichinhos para a próxima atração, eu estava fazendo uma entrevista na sala ao lado (estúdio) e vi a produção entrando com os bichinhos.

Eu falei: “Esse negócio não vai dar certo”. Como eu uso há muito tempo o ponto eletrônico, aprendi a dividir o cérebro. Então, de um lado você escuta o que o entrevistado está falando e de outro já pensa paralelamente: “Cara, vai dar m… esse negócio”. Bom. Deu cinco minutos e os pintinhos saíram pulando de lá, e os coelhinhos. Um horror. E eu vi o povo pulando e pensei: “Eles vão machucar os pintinhos”. Pedi licença para a entrevistada, peguei o pintinho no ar e voltei. Eu estava preocupada com o pintinho porque o povo não sabe pegar. No que o pintinho passou, eu fingi que não estava vendo, pulei e peguei. “Gente, quem tem bichinho em casa tem que fingir que não está vendo, de repente você pula e pega”. Aí virou meme na época. Foi até para o CQC. 

CB – Tá certo o que você fez, não disfarçou que o bichinho não estava ali. Igual a apresentador ou ator que fala com a mosca no rosto e quer fingir que o inseto não existe. Fica aquela coisa terrível.

CF – E teve uma vez que eu estava com um vestido “tomara que caia” e tinha uma parte do palco mais alta, uns 25 centímetros, da parte que eu ficava. Acho que alguém fez algum conserto e deixou um prego. Quando eu me movimentei para a parte de cima, meu vestido enroscou no prego e eu pensei: “Ou eu caio, ou eu pago peitinho”. Olha, pagar peitinho nessa altura do campeonato ninguém merece, né?

CB – Rssssss. No momento que você percebeu que o vestido iria cair você preferiu levar o tombo, né?  

CF – Claro. Ou eu ia para o chão, ou inevitavelmente iria mostrar meu peito inteiro. Porque é silicone, né? Peito de silicone é plástico. Ele não modela igual ao peito normal. Então, teve várias coisas.

CB – Catia, foi difícil entrar na TV e mostrar seu espaço?

CF – Difícil, se você analisar só por um lado. As pessoas sempre acham que é sorte. E não é sorte. É determinação que você tem que levar para a sua vida. Difícil nem é você entrar, mas você se manter. Você precisa se reciclar sempre e não fazer o que quer. O programa é para o público. Se fosse do jeito que eu queria, muita coisa seria diferente, mas eu não faço programa para mim. Minha chegada na Rede Mulher foi depois de seis meses indo lá toda semana. O Sr. Waldemar de Moraes, que era o diretor artístico, falava: “Anjinho, não tem nada pra você, não”. Porque eu fui pedir emprego para ele. Ele falou: “Vem na próxima semana e dá uma passadinha por aqui”. Eu pensei: “Preciso criar uma estratégia”. Eu sabia que, se fosse toda segunda-feira de manhã, ele iria mandar avisar que não estava, ou que estava ocupado. Então, eu ia toda semana, em dias e horários diferentes, e ficava sentada na área externa. Não sei se você se lembra, porque é bem mais novo.

CB – Opa. Não sou, não. Tenho meus 48 aninhos.

CF – Não parece, viu?                                             

CB – Que ótimo. Ganhei o dia.

CF – Então, eu cheguei lá um dia e fiquei sentada em um pátio, parecia pátio de colégio. O Sr. Waldemar já tinha feito vários testes comigo, me colocava para algumas reportagens da emissora e divulgava no jornal deles. No dia em que eu estava na área externa da emissora, a apresentadora do programa Com Sabor arrumou uma briga, na hora de fazer o programa, e o Sr. Waldemar falou: “Anjinho, tem uma coisa pra você fazer”. Eu sempre gostei de cozinhar, mas nunca imaginei que fosse fazer um programa nesse estilo. Eu falei: “Não, Seu Waldemar, não é isso que eu quero. Quero jornalismo”.

Ele falou: “Anjinho, pega o que está na mão e aproveita”. Eu peguei e foi ótimo. Eu nunca pensaria em fazer, apresentar um programa no estilo que eu tenho hoje. Não foi pensado. Não foi escolhido. Foi o que caiu, eu aproveitei e adorei.

CB – Que ótimo. Catia, eu li que você vai estrear um programa no Terra Viva, com a frase: “Catia também é agro”.

CF – Eles me fizeram o convite no ano passado, mas logo depois veio a pandemia. Então, a gente não estreou. Eu sempre gostei de sítio, porque eu tenho paixão por terra. Na minha casa sempre tive ervas e uma jardineira. Eu moro em apartamento. Eu tive sítio e sempre adorei plantar e ver como as coisas funcionam. Eu fiz curso porque queria ter uma plantação de shimeji e shitake. Eu acho que o agronegócio é muito pouco valorizado. Principalmente os agricultores. Falta a gente mostrar de verdade o que é o agronegócio de uma forma simples. E o Terra Viva tem uma coisa muito importante, que para mim vai ser ótima. Além do público de agronegócio, o legal é levar informação para quem não é do meio. Então, eu acho que ir para o canal vai ser bom justamente por isso.

Quem gosta de agronegócio não é só quem vive do campo. A gente que vive na cidade tem que entender o que é agronegócio. Eu assistia sempre ao Globo Rural, programa de leilão de gado, de cavalo. Eu pensava: “Imagina quanto tempo o dono do bicho cuidou dele?”. Você fica pensando o quanto de dedicação e amor que a pessoa precisa ter no negócio. O agricultor só se estressa. Se chove demais, ele perde tudo. Se não chove, ele também pode perder tudo. Ele precisa se programar e, independentemente do que aconteça na plantação, precisa pagar as contas. O agricultor não é valorizado.

CB – Tem data para vocês estrearem?

CF – Em função da pandemia, a gente congelou isso. Porque a ideia é mostrarmos feiras, matérias em outros estados. Acabando a pandemia, nós já temos certo no Melhor da Tarde que, uma vez por mês, a gente faz o programa em outro estado. Então, sábado e domingo vamos fazer matérias por lá. O mesmo faríamos com as feiras de agronegócio no Terra Viva. A gente pode conciliar isso. As feiras que acontecem movimentam milhões, para alcançar pessoas que não dão valor – por puro desconhecimento. Mas tivemos que parar um pouco o projeto em função da pandemia.

CB – Que legal viajar, mostrar as feiras, é muito bom isso. Meu avô tinha um sítio em Itapecerica da Serra (SP) que me dá saudade até hoje. A vida no campo é muito boa, curtir a natureza.

CF – Não é? Eu tenho uma laranjeira enxertada e, geralmente, a árvore produz laranjas pequenas, mas a minha laranja está gigante. Eu tenho pêssego, mexerica e uva no meu apartamento.

CB – Pois é. Quem ama o campo consegue ter verde até em apartamento. Eu tempero minha comida com manjericão plantado em um vaso no terraço. Dá até para tomar banho de manjericão.

CF – Faz bem. Tira a urucubaca.

CB – Catia, você tem um programa na Rádio Bandeirantes, né?

CF – Sim. É o Do Bom e do Melhor.

CB – Pois é. E também está no YouTube. Como você se organiza para fazer tudo isso, Catia?

CF – Quando o Schneider (Rodolfo Schneider, diretor-executivo de Jornalismo da Band) me fez o convite, eu fiquei honrada. Eu amo rádio. Antes de mais nada, eu amo rádio. Entre televisão e rádio, eu acho que eu prefiro a companhia do rádio. Sabe por quê? Onde estamos, temos a companha do rádio. Eu me lembro dos avós. A gente ouvia Zé Bettio. Na cozinha, pela manhã, era rádio que se ouvia. À tarde também. As pessoas paravam para ouvir rádio, e notícias. A Rádio Bandeirantes sempre foi referência para mim. Eu morria de medo do Gil Gomes, daqueles casos…

CB – Eu me lembro. Parecia filme de terror. Aquela música no fundo, quando ele falava, ninguém merecia.

CF – E quando eu conheci o Gil Gomes pessoalmente ele foi tão fofo, como eu podia ter tanto medo? Então, o rádio é muito presente, e o convite do Schneider para fazer o Do Bom e do Melhor foi muito legal. Eu acho que TV e rádio são formas de comunicação que se complementam e eu gosto bastante. É uma linguagem diferente também. A TV é mais fácil porque você tem o vídeo, você não precisa detalhar muita coisa. Tem um comodismo maior.

Se comunicar no rádio não é tão simples quanto a gente imagina. Eu posso achar que estou me comunicando bem e ninguém entende nada do que eu estou falando. Para mim é muito gratificante.

CB – E o YouTube?

CF – Olha, o canal no YouTube eu parei um pouco por causa do tempo. Eu passava receitas, entrevistava, quando eu estava na Gazeta. Mas a Band demanda muitas reuniões comerciais, a gente faz muitas externas. Então, não sobra muito tempo. Eu também vejo que o Instagram está tomando uma proporção muito maior do que o YouTube. Acho que muitos canais foram surgindo no YouTube e a audiência foi se diluindo. Eu não vou terminar com o YouTube, mas não consigo colocar tanto conteúdo como eu fazia antigamente.

CB – Eu acho que você consegue fazer até coisa demais, Catia. Como você se divide no dia a dia para fazer tanta coisa?

CF – Eu sou a chata do bloco de notas. Eu tenho tudo. Menino, eu tenho 1.700 notas. Eu junto tudo. Eu tenho receitas, porque tenho que mostrar ao público novidades. Eu entro em site grego, site turco, site russo para pegar receitas diferentes. Se estou vendo televisão, estou também com o computador caçando coisas e separando. Eu faço agenda da semana. Coloco coisa no calendário para apitar no celular. Eu sou muito distraída. Se não ficar atenta, eu vacilo em algo.

CB – Catia querida, a pergunta padrão da coluna: quando a Catia Fonseca está Por Trás da Tela do celular, computador, televisão, o que ela gosta de fazer?

CF – Eu gosto de arrumar armário. É tosco isso. Eu sou a rainha da etiquetadora. O Rodrigo brinca que uma hora ele vai ficar parado, distraído e eu vou colocar nele uma etiqueta com o nome dele. Como a organização não faz parte de mim, eu sou aquariana e dizem que aquarianos são desorganizados, o que eu arrumo hoje eu “maloco” amanhã. Eu sou distraída. Eu perdi ontem o fone de ouvido com o qual tinha que entrar no programa – eu não enxerguei. Eu gosto de organizar coisas. O Rodrigo fala que, se eu pudesse, deixaria tudo em uma caixinha. Eu falo “Não. Em várias caixinhas”. (risos)

CB – E você etiqueta tudo mesmo?

CF – Tudo. Eu adoro artesanato e tenho mania de ferramenta. Eu tenho caixas de ferramentas com furadeira, parafusadeira, lixa, tudo isso. Então, eu ponho tudo escrito em caixa. Gosto de costurar, eu tenho caixinhas com agulhas, outra com linhas de bordado, gosto de fazer tricô. Então, tenho caixas com lã, e eu coloco uma só com lãs azuis, por exemplo. Assim, fica mais fácil eu achar. Gosto de cozinhar, gosto viajar, gosto de caminhar e gosto de conversar.

CB – E eu adorei conversar com você, Catia.

CF – Eu também.                                               

CB – Não vi o tempo passar, e agradeço a participação na coluna. Agora, nossa conversa continua no seu programa, mas eu só te escuto. Muito obrigado e até a próxima!

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