Fala, mas não faz

A imprensa se revolta com o racismo, mas e as soluções?

O racismo é um problema mundial, e a imprensa resolve falar no assunto por conveniência

Publicado em 21/11/2020

Em 1695 morria Zumbi dos Palmares. O feriado no dia 20 de Novembro foi criado com o objetivo de conscientização da importância do negro na nossa vida. Como amante da cultura, eu sempre apoiei o feriado, apesar de não ser nacional.

Mas insisto que apenas um momento para lembrar dos negros no Brasil é muito pouco, e refleti sobre o assunto quando escrevi o texto: Paulo César de Oliveira será vítima de racismo em vão?, algumas semanas atrás, aqui nessa mesma coluna Por Trás da Tela que os amigos acompanham.

Eu acho que feriados propostos para pensar em problemas que assolam o mundo são válidos. No entanto, não será um único dia que mudará nossa mentalidade, embora a iniciativa seja louvável.

É aquela mesma história que os amigos sempre conversam pelo Brasil: “Precisa de Dia das Mães? Precisa de Dia dos Pais?”. As pessoas pensam: “Todo dia é das Mães e dos Pais”. Pois é, deveria ser, mas os problemas do cotidiano, neste mundo tão maluco, nos fazem pensar que é preciso uma data para homenagear os pais.

Assim paramos de pensar em contas, impostos, política, vaidade e focamos amor e atenção em quem nos criou e educou – vale lembrar que pai e mãe não são necessariamente do mesmo “sangue”. Pai ou mãe é quem cria.

Vale também lembrar do objetivo econômico. Então, pelo menos uma vez por ano, algumas pessoas visitam os pais que às vezes moram longe dos filhos, devido as necessidades da vida.

Enfim, voltando ao assunto, todos os dias deveríamos dedicar nossos pensamentos ao povo negro, que tem uma das culturas mais lindas que eu conheço e foi vítima de uma colônia de exploração, hoje um país dito democrático que se chama Brasil.

E como poderíamos nos dedicar à causa negra? Com educação. O combate ao racismo será possível principalmente com educação. Somente nas próximas gerações, com diálogos “humanos”, com aulas de história, sociologia, cultura, restará a chance de entender que não existe raça superior a outra.

Existe um complexo de inferioridade em todo ser humano que precisa espulgar seus demônios, criando um símbolo a ser combatido – e o racismo é o mais covarde deles.

Como o objetivo da coluna Por Trás da Tela é falar em todos que lidam com veículos de comunicação, que são mostrados em aparelhos tecnológicos, eu digo que a própria imprensa, que faz o barulho do “racismo”, não olha para o próprio umbigo – no caso deste feriado foi o triste caso João Alberto Freitas, usado como arma de indignação.

Repito o que eu digo no artigo anterior. Quantos negros nós vemos em novelas, filmes, jornais, por dentro e Por Trás da Tela?. Os negros que trabalham na imprensa não são discriminados, violentados, mortos, nem que seja moralmente?

O número de negros que trabalham em televisão, principalmente na frente das telas é mínimo, o mesmo número de negros que estuda em escolas particulares caras e, portanto, não tem as mesmas oportunidades de outras raças mais afortunadas historicamente.

Porém, a TV resolveu falar do Dia da Consciência Negra ao escolher um fato, uma brecha na programação em tempos de quarentena. Sim, meus amigos. Se não fosse o estrago da quarentena, e tivéssemos festas e imagens, até do próprio movimento negro, acredito que o caso João Alberto Freitas não seria divulgado com a mesma importância.

A imprensa age com interesse quando as pautas favorecem a programação, inclusive para usar um fato lamentável com uso político. Eu digo que não concordei com a atitude de combater o racismo, baseado no caso João Alberto Freitas? Claro que não. Mas todo dia temos que trabalhar com afinco para diminuir o problema, aos poucos, até que acabe – tomara Deus!

Enquanto isso teremos que aguentar âncora, repórter, comentaristas brancos, com expressão de justiça na testa, escolhendo a dedo comentaristas negros, para disfarçar a evidência de que não há representantes da negritude na imprensa, que é o reflexo da sociedade. E índio? Vocês já viram na TV? Isso é uma outra história. Ou a mesma!

*As informações e opiniões expressas nesse texto são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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