Triste cenário

Em sua pior fase, RedeTV! fecha 2021 zerada de bom conteúdo, audiência e prestígio

Emissora abraçou o fracasso e pouco fez para sair da inexpressividade

Publicado em 29/12/2021

A TV no Brasil ainda junta cacos do impacto causado pela pandemia da Covid-19 que afetou vários setores: entretenimento, teledramaturgia e esporte principalmente. Ao longo dos últimos meses, executivos de todas as emissoras fizeram muita coisa, dentro do que foi possível, para desenferrujar a engrenagem e tentar de alguma forma diminuir a fuga de espectadores para outras mídias. Poucas conseguiram.

A RedeTV!, observa-se, optou pelo caminho mais barato e adequado a sua infeliz realidade – o da parceria com produtoras independentes. Em março de 2020, quando o cenário já não era lá dos melhores para a emissora, foram anunciados pelo menos dez novos programas. Mas do que foi prometido, nada sobrou. Alguns, bem sabemos, ficaram apenas na promessa.

Com a imagem arranhada devido a forte aliança com o governo Bolsonaro e um declínio absurdo em audiência que decorre de fatores bem notórios, como a falta de investimento e uma dirigência mais assertiva, a RedeTV! sobrevive com repercussão próxima do zero e pouco prestígio do mercado publicitário, que não vê interesse em seus programas popularescos e de baixa qualidade.

Sikêra Júnior reflete muito bem a realidade da emissora. Nos últimos meses o apresentador do Alerta Nacional causou prejuízos enormes à emissora de Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho ao propagar ao vivo discursos de ódio, preconceito e homofobia, além das fake news.

Acreditavam que postura do apresentador traria audiência e repercussão – como se valesse tudo por um ponto a mais no ibope. Mas a alegria durou bem pouco e tempo trouxe a resposta. Hoje o Alerta Nacional não dá nem um nem outro, tampouco caiu no gosto popular.

O resultado das frequentes polêmicas teve um efeito tão contrário ao esperado que a fuga de anunciantes foi apenas um detalhe. Sikêra Júnior ainda conseguiu a proeza de fazer com que a RedeTV! ganhasse a rejeição da crítica especializada e prestigiados veículos de entretenimento, que em sua maioria recusam divulgar a programação do canal, prejudicando artistas e atrações da casa.

Com grande parte de seus horários repassados à igrejas em troca de dinheiro de procedência duvidosa, a RedeTV! não consegue rentabilizar o suficiente para criar, apenas para se manter como está, completamente apática às outras, sem perspetivas para o novo ano que se inicia nem boa vontade de seus acionistas.

A única movimentação sinalizada foi a contratação de Juliana Algañaraz, CEO da La Reina Entertainment e que por cinco anos e meio foi CEO da Endemol Shine Brasil. O objetivo, segundo consta, é aumentar a oferta de conteúdo, produtos e serviços para anunciantes e mercado publicitário (?). 

Mas dezembro chegou e absolutamente nada aconteceu. E pra piorar, o elenco do Encrenca, dominical que reergueu os domingos da emissora após a saída do Pânico na TV, migrou para a Band. Na crença de que uma reformulação bastaria, a RedeTV! deu com os burros n’água ao manter o programa no ar com um novo time de apresentadores e a direção de João Kléber. Tiro no pé.

Na programação, Sonia Abrão cumpre muito bem sua parte. O TV Fama, com direção equivocada, perdeu completamente a identidade e o propósito. Do outro lado, Luciana Gimenez parou no tempo, enquanto Daniela Albuquerque, muito boa no que se propõe, prova a cada semana que está preparada para vôos mais altos.

Por fim, não é nada agradável escrever sobre a lamentável fase que a RedeTV! enfrenta, mas ela pouco faz para mudar. Repleta de brilhantes e talentosos profissionais de bastidores e de vídeo, são eles quem mais sofrem. Enquanto seus acionistas fazem vista grossa para muita coisa e enfrentam a crise empurrando com a barriga, seus funcionários alimentam o sonho e a esperança de um dia poder fazer televisão de verdade.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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