Filha de Russo desabafa: “A doença fez dele um bebê”

Publicado em 29/01/2017

Velado e enterrado na manhã deste domingo (29), Russo, ex-assistente de palco da TV Globo foi uma figura que teve sua importância na história da televisão brasileira. Falecido no sábado (28), devido a uma infecção pulmonar, teve amigos e familiares lhe prestando última homenagem. Mesmo comovida com a perda, sua filha, Fernanda Santos de Souza e Silva, conversou com o Observatório da Televisão sobre seu pai.

Russo é velado e enterrado sem a presença de famosos; veja fotos

Fernanda,  com a partida do Russo, o que fica agora?

Fica um vazio imenso, porque ele era tudo na minha vida. Era meu guerreiro, meu exemplo; Eu vivia com ele nos bastidores da emissora que ele trabalhava, e nos últimos tempos de pai ele virou meu bebê, meu filho.

Ele necessitava de cuidados a todo instante?

Sim, à todo instante. Tinham noites em que eu não dormia, tinham certas semanas em que eu trocava o dia pela noite, porque eu tinha que fazer comida e cuidar dele. O Alzheimer dele estava a cada dia mais agressivo, e como ele não andava eu precisava carrega-lo pra levar ao banheiro, dar banho, ele se tornou realmente um bebê.

Antes da doença afetá-lo tão fortemente ele se lembrava do tempo em que trabalhava na TV?

Sim, ele se lembrava de tudo o que era do passado e o marcou. Ele se lembrava dos nomes dos pais, apenas das pessoas recentes ele não se lembrava.

Antes da doença se agravar ele comentava que sentia falta de estar na TV?

Tinham momentos em que ele acordava a noite e dizia “Prepara minha mochila, eu preciso ir trabalhar” e eu entrava no jogo dele porque não queria vê-lo frustrado. Arrumava a mochila, pegava na mãozinha dele e a gente ia até o portão, ele olhava o tempo e perguntava “Vai passar um ônibus aqui ou um táxi?” e eu dizia “Daqui a pouco passa, vamos aguardar”. Daí ele dizia estar cansado e voltava para a casa. Por várias vezes fiz esse mesmo trajeto.

E ele costumava assistir televisão?

Quando ele estava bem, sim, ele assistia TV mas quando o Alzheimer ficou mais forte, ele ficava com olhar distante. A primeira crise aconteceu quando ele ainda morava com a esposa. Ele teve epilepsia, tomava muitos remédios controlados, e passou a precisar de muitos cuidados e muita atenção.

Existia relacionamento dele ou uma ligação com as pessoas com as quais ele trabalhou?

Não existia porque ele desligou o vínculo com a empresa, e as pessoas que o procuraram foram Geraldo Luis, Sonia Abrão, Gugu que chegou a ligar pra saber se ele estava fazendo fisioterapia. A Globo deu assistência fazendo pagamento do plano de saúde, e ele recebeu o dinheiro dele durante 5 anos após ser desligado. A assistência que a Globo poderia oferecer era essa.

O que vai restar da personalidade do Russo em sua lembrança?

Do homem com o qual convivi restam muitas lembranças. De quando aos 8 anos de idade pegava na minha mão e me levava ao Teatro Fênix, e meu almoço era o lanche do Programa da Xuxa.  Ele dizia: “Entra na fila várias vezes que hoje seu pai não pode sair pra almoçar”, e tiveram momentos assim que vão ficar guardado na minha mente. Um homem guerreiro, trabalhador, que não morreu devendo ninguém, tanto em amor dedicação e carinho. Certa vez nos desentendemos por ciume e ele foi à minha casa me pedir perdão, e nós vivemos intensamente esse amor pois ele era mesmo um bom pai.

Colunista Rodrigo Teixeira

*As informações e opiniões expressas nessa coluna são de total responsabilidade de seu autor.

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